quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Esse tal de vínculo afetivo

O que eu mais ouvia das enfermeiras quando estava na maternidade era sobre o tal do vínculo entre mãe e filha.
Que eu tinha que ficar com a Beatriz pertinho de mim, sentindo meu cheiro, meu calor e ouvindo meu coração bater para criar o tal vínculo.
Eu, que estava a caminho de Marte já, não registrei nada. Até tirava sarro.
Claro que meses depois a culpa veio, a galope, para me derrubar.

Nem sei se elas estavam certas. Se se cria o vínculo assim tão cedo e dessa maneira.
Talvez por causa da minha depressão pós parto o meu caso tenha sido diferente.

Lá em casa, quem foi atrás e fez acontecer foi a Beatriz, não fui eu.
No auge da minha ausência mental, com o jeitinho charmoso e cativante que só ela tem, a minha filha me trouxe de volta.
A cada olhar, sorriso, choro de manha direcionados a mim, ela me dava um puxãozinho de orelha.
Foi ela quem me tirou do transe me dizendo, mamãe, eu estou precisando de você, não só para trocar a minha fralda, me dar banho e me alimentar, mas para ser a minha mãe.
E eu fui voltando aos poucos, para ser a mãe da minha filha.

Meu amor pela Beatriz não foi à primeira vista. Nem à segunda.
Ele foi construído.

Hoje eu entendo esse vínculo, essa cumplicidade.
As trocas de olhar que dizem tudo, as brincadeiras secretas, os abraços apertados que surgem do nada, o beijo que ela só manda para mim quando estamos sozinhas, a segurança que ela sente comigo, a paz enorme que eu sinto quando ela adormece nos meus braços, as minhas palhaçadas que fazem ela rir e que eu só faço para ela, o jeitinho dela de me abraçar e me fazer carinho quando percebe que eu não estou muito bem, cada descoberta que ela vem me contar correndo cheia e orgulho e que eu faço a maior festa, o jeitinho fofo dela me chamar para brincar, assistir TV deitadas na cama, ficar enrolando para levantar nos finais de semana, as nossas cantorias e dancinhas no carro...

Foi a Beatriz quem me ensinou a ser mãe de verdade.
Não apenas a mãe prática e eficiente que eu era nos primeiros meses de vida dela.
Ela entendeu como as coisas funcionam muito antes de mim.
Me apresentou o caminho de volta e me transformou em uma mãe completa.
Esse tiquinho de gente...


Mãe de Menina

Um comentário:

  1. Que lindo texto!!!
    E que maravilhosa a vida!!!
    Que bom que a Beatriz conseguiu resgatar vc para o mundo dela, para ser a mãe que ela precisava e que vc conseguiu construir este vínculo tão lindamente!!!

    bjs e tenham um final de semana abençoado!!!

    Cláudia

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