quinta-feira, 10 de junho de 2010

Culpa, Culpa. Mil vezes culpa.

Minha mãe bem me disse: “Basta ser mãe para se sentir culpada.”
Estava eu passeando por um blog que eu adoro ler porque além de divertido é corajoso e fala o que quer e li um post fantástico: Confissões de Mulher e Mãe:
http://redemulheremae.blogspot.com/

Sabe aquela história de ser reconfortante saber que muitas mulheres/ mães passam por períodos não tão glamurosos por causa da maternidade. Então...
Tomei a liberdade de reproduzir algumas confissões aqui, entre aspas e em amarelo, sem identificar as autoras. E escolhi esses em especial porque assino embaixo de todos eles.
Me inspirei na coragem da Calú que escreve “sem filtro” no Rede Mulher e Mãe e aproveitei pra fazer as minhas confissões também. E me fez um bem enorme.
Bora colocar tudo pra fora?!?!?!? Nunca é tarde demais...


Quando a Beatriz nasceu as pessoas falavam pra mim: é amor a primeira vista, né? Essa coisa de ligação entre mãe e filha é incrível, como é instintivo e nasce forte.
Eu não sentia isso. Aprendi a gostar dela ela já tinha uns 5 meses. Aprendi a amá-la incondicionalmente faz bem pouco tempo. Antes disso eu era apenas uma mãe eficiente e funcional.

“Quando eu estava grávida detestava quando alguém falava que eu não podia ficar triste ou ter algum sentimento ruim porque o bebê sentia. Que bom que meu bebê sente! Ele é um ser humano, não um robô.”

Quando eu estava grávida me incomodava muito que as pessoas me chamassem de mamãe. Eu sou mãe da minha filha e somente dela.

Quando eu estava grávida não gostava que as pessoas fossem logo se alojando na minha barriga. Nunca entendi muito bem essa relação. Na minha cabeça, a minha barriga continua sendo minha, parte do meu corpo. Precisa pedir licença pra colocar a mão, beijar... eu ia deixar, era só pedir. Confesso que às vezes eu não saia de casa pra não passar por isso.

“Durante a amamentação eu levantava no meio da noite e comia escondido de tanta fome que eu sentia. E eu não estou falando de uma frutinha...” Não sei como voltei pro meu peso em 2 meses.

Quando a enfermeira levou a Beatriz para o quarto colocou ela no meu colo e me disse: “fica com ela bem juntinho de você pra ela sentir você, deixa ela bem quietinha no seu colo até eu voltar pra orientar a mamada.” Ela tinha recém saído da minha barriga, depois de longas e exaustivas horas de trabalho de parto. A enfermeira virou as costas e eu disse pro meu marido: “Faz uma rodada (sim, nesses termos mesmo) pra todo mundo pegar ela no colo.” Tinham umas 15 pessoas no meu quarto que eu tenho certeza que poderiam esperar um pouco mais para matar a vontade de dar boas vindas a ela. Mas lá se foi meu bebê, como se fosse uma boneca e não um ser humano recém chegado. Muitos colos, muitas fotos e flashes. Tão mini, tão indefesa. Me sinto a pior mãe do mundo por isso. Tento por a culpa na anestesia da cesariana, na deprê pós parto, mas ainda não consigo. Eu falhei logo de cara em dar colo e conforto em um momento muito importante.

Muitas vezes “Queria mais é o mundo acabasse em barranco preu morrer encostada.”

Os primeiros meses da Beatriz foram o samba-do-criolo-doido. Primeira neta, bisneta, sobrinha, filha de amiga, sobrinha neta e etc depois de muuuitos anos sem criança nas famílias envolvidas.... todo mundo muito ansioso. E eu aparentemente passando umas férias em Marte. Todo mundo dava banho, todo mundo trocava fralda, pegava, despegava...eu oferecia essas funções pra quem chegasse em casa, fosse quem fosse. Dava até aula de como fazer, usando a minha filha de cobaia. Às vezes dava errado e ela se matava de chorar, pra ela era tudo novo Tb, e assustador muitas vezes. E eu ficava com cara de paisagem. Tendo a acreditar que se eu pudesse tirar meu peito ia oferecer para as pessoas darem de mamar a ela. Tinha dias que a gente ia dormir e o Giovane comentava comigo: “não peguei a Beatriz no colo hoje.” Eu só pegava porque amamentava. Ninguém faz nada por mal, claro, mas me culpo por não ter imposto alguns limites. Deveria culpar a deprê pós parto (que eu carinhosamente chamo da minha viagem a Marte) mas ainda não cheguei lá.

“No final da gravidez eu MORRIA de aflição de espirrar e tossir. Sabe quando você tá menstruada e espirra e dá aquele CHUÁ? Então, eu tinha a impressão que ia sair uma perna, um braço.”

“Queria muito voltar a ter um final de semana, meu marido me ajuda muito (do jeito dele), mas gostaria de dormir a hora que eu quisesse e acordar tarde nos dias seguintes. Impossível.” Pelo menos por enquanto.

Beatriz teve muita cólica. Eu pelo menos achava isso. Hoje eu sei que ela chorava era de cansaço, de super estimulação e acho eu, de falta de conforto e colo da mãe. Hoje eu sei que apesar de ser um bebê muito tranqüilo e sociável, ela muitas vezes pede água. Pra mim. E então é hora de levá-la para um ambiente mais calmo. Me sinto culpada por achar que tudo era cólica. Aí ela passava de colo em colo, todo mundo tentando acalmá-la. E eu, ainda em Marte. Na maternidade mesmo aconteceu um episódio desses. Eu optei por sair do quarto e dar uma volta no corredor, chorando, claro. A minha vontade acho que era de sair correndo. De tanta dor, cansaço, stress com todos os palpites, com tanta gente ao redor o tempo todo... às vezes eu me perguntava o que eu tinha feito. Quando na verdade eu deveria ter pedido licença pra todo e ter ficado acalmando a milha filha, com o meu marido. Depressão pós parto? De novo?? Humm

“Me sentir culpada por me sentir tão cansada, já que meu filho é um anjo, dorme a noite toda, não dá trabalho para comer, nem para o banho, é quietinho e não tem nenhum problema de saúde.”


Durante meses tive rompantes de raiva. Pensei e fiz coisas com a minha filha que eu nunca vou me perdoar. Nem com anos de terapia intensiva. Espero que um dia ela me diga que tudo bem. Porque eu pretendo me desculpar quando ela for mais velha.

“Culpa por ele ter largado o peito com 3 meses e meio e eu ter ficado feliz por "reconquistar" uma certa liberdade.” 4 meses, no meu caso.

Não sei se por causa da depressão pós parto (só vou tirar a prova no próximo filho) eu não curtia amamentar. Todo mundo falava que era um momento mágico, de criação de vínculo entre mãe e filha, e eu só pensava na minha liberdade e em como a sensação era extremamente desagradável.

“Culpa por desejar ter minha vida antes da gravidez de volta, várias vezes na semana.” Hoje em dia, somente alguns momentos por semana.

Quando voltei de Marte, toda a culpa acumulada em meses caiu sobre mim de uma só vez. Além de ter sido terrivelmente doloroso me transformou em uma mãe superprotetora. E então eu não queria sair de casa para não expor minha filha às outras pessoas. Não foi um dos meus melhores momentos também. Mas procurei ajuda e hoje estou mais equilibrada. E muito mais feliz.

“Mas, quando olho cada pedacinho dela, me dá um grande aperto no coração por me sentir culpada por sentir tudo isso.”

UFA!

Mãe de Menina

3 comentários:

  1. Ana,
    Uma vez ouvi uma pessoa dizer que quando uma mulher tem filhos, as pessoas deveraim visitá-la somente depois de três mese e olhe lé. Sabe que agora até acho que seria o certo mesmo...
    Meu filho foi a primeira criança depois de muuuuito tempo dos dois lados da família, e passei por muita coisa que você relata aqui. A diferença é que, como não sofri depresssão, comprei briga com todo mundo. Passei por mãe chata e neurótica, depois deixei claro pra quem queria se meter em tudo, que quem decidia sobre meu filho era eu e meu marido e somente nós e portanto que parassem de dar pitaco. Minha vida melhprpu muito depois disso, mas não foi fácil meeesmo.
    Com monha filha foi mais fácil, ainda bem.
    Na época do Gabriel, eu até curtia amamentar de dia, à noite eu achava ruim de mais por conta do sono. Já na vez da Elisa, eu ficava impaciente e nào via a hora de acabar. E a culpa se instala, porque acho que fiz diferença entre eles. Coisa de mãe.
    Chorei muitas vezes, e alguns momentos quase fiquei louca com duas crianças tão pequenas em casa. Tive uma crise nervosa, não conseguia falar sem gaguejar, botei as crianças no carro e fui pra casa de minha mãe e até hoje não me lembro como cheguei lá. E por muitas vezes me senti culpada de nào conseguir manter a sanidade, como parecaim mantê-la todas as mães que falavam maravilhas da maternidade. Com o tempo a gente descobre que a maioria das estórias são fábulas mesmo...e ainda sim a culpa permanece. Dureza mesmo. Desculpe o comentário looooongo, gostei de teu desabafo.

    Bjs, Elaine

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  2. Que bom cunha que hoje vc fala de um assunto tão seu para todo mundo saber que ser mãe é ser humano, é ter e sentir coisas que todos sentem. Fico muito feliz, muito mesmo de saber que hoje esta tudo bem com vcs. Vi de perto que não foi fácil e hoje aplaudo de pé as suas conquistas. Conte sempre comigo! Parabéns! Beijos.

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  3. O que eu falo pra vc é:

    vc não está sozinha. Nunca pense isso!!
    E olha, eu acho que o mais difícil é assumir que tem alguma coisa errada.
    Isso acontecendo, é arregaçar as mangas e fazer mudanças.
    O processo é muito doloroso, meeeesmo.
    Mas o resultado é incrivelmente maravilhoso.

    Eu te dou o maior apoio!
    Vc é corajosa! Toma as rédeas do negócio e faça acontecer!

    Vai ser melhor pra todo mundo.

    E ó, todo mundo tem fraquezas, todo mundo erra, todo mundo tudo...
    O bacana é assumir isso, que a gente é humano e imperfeito, e tentar sempre fazer melhor.

    Beijo, querida. E se precisar, estou do seu lado. Literalmente.

    Familiar?! Adoreiiiiii

    ;)

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